quarta-feira, 11 de maio de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

A fila já andou



A Fila já Andou



Carlos Moreira


Hoje à tarde fui ao shopping; coisa rara. Tinha que comprar um chip para o iPad e aproveitei para pagar uma conta telefônica na lotérica. O que deveria ser uma comodidade tornou-se, na verdade, um suplício. A fila era enorme, gente se apertando de todos os lados num pequeno corredor por trás das lojas.


Depois de meia hora sem sair do canto, eu já estava “viajando”. Minha cabeça, definitivamente, não se encontrava mais naquele lugar. Ouvia ao fundo um “zumbido”, mas ele não podia me tirar do meu “transe”. Foi aí que senti uma “cutucadela” nas costas. Virei-me e vi uma senhora dizendo: “meu filho, preste atenção! A fila já andou”. De fato, a fila andara e eu não havia me apercebido.

Mas não foi só a fila da lotérica que andou... Em quase 30 anos de caminhada, percebo claramente que uma outra “fila" também andou, aquela que me conduz para dentro de mim mesmo. Hoje, constato com alegria que, enquanto caminhava, desconstruí muita coisa que foi “erguida” erroneamente. A verdade é que pouco sobrou... Às vezes releio textos ou mensagens de alguns anos e não os reconheço. “Minha teologia” mudou significativamente nos últimos anos. Dores, perdas e alguns fracassos me tornaram mais humilde, mais quebrantando, talvez, mais simples.

Lembrei do Roberto Corrêa: “o simples é o contrário do fácil”. É muito comum confundirmos simplicidade com simplismo. Ser simples é ser singular; ser simplório é ser medíocre. Tenho pavor da banalidade, da unanimidade. Meu grande medo na vida sempre foi não me tornar alguém, não chegar nunca a ser eu mesmo, não me encontrar comigo.

É por isso que Jesus me fascina! Ele sabia quem era, conhecia o significado de sua existência, compreendia as implicações de sua vocação, seu propósito, discernia o que tinha de fazer, por onde devia andar, com quem precisava se ajuntar. O estilo de Jesus era singular, inconfundível.

Diferentemente de outros mestres, como Platão, que fundou uma academia, ou Aristóteles, que fundou um liceu, Jesus não fundou coisa alguma. Aliás, foi peça fundamental para afundar tradições, dogmas, ritos e mitos do “sagrado” de Israel.

Jesus era desalojado, era como o Pai, “claustrofóbico”, não podia ser “contido”, “aprisionado”. Ia às sinagogas, mas nunca quis ser membro delas, rejeitou a tentação de ser sacerdote, passou ao largo da possibilidade de tornar-se “refém” do Templo, deixou de lado a politicagem do Sinédrio e fez caso das seitas judaicas. Para Jesus, aquilo tudo tinha cheiro de morte, era a religião das aparências, da performance, do embuste, o estelionato do ser.

Por isso a escola de Jesus era na rua, nas esquinas, nos becos das cidades, nas casas, nos ajuntamentos a beira mar, ao pé da montanha ou nas colinas. Seus alunos não eram filósofos letrados, nem rabinos eruditos, muito pelo contrário, entre seus discípulos não havia pessoas com “pedigree”, apenas gente que queria aprender a ser gente.

Se não, observe! Veja se os encontros mais significativos de Jesus não foram com a rafaméia: a prostituta que ia ser apedrejada, os 10 leprosos, Zaqueu o publicano, a mulher do fluxo de sangue, o cego de Jericó, o aleijado do tanque de Betesda, a mulher Cananéia, a viúva de Naim, o endemoninhado gadareno, e outros tantos anônimos, excluídos, oprimidos, perseguidos.

Lembro da parábola das bodas... Os convidados eram pessoas “distintas”, “nobres”, gente de “importância”, de “destaque”. Mas todos tinham seus afazeres e fizeram pouco caso do convite. Aí o Rei mandou chamar a gentalha, os estorvos, os miseráveis e os bêbados. Se fosse hoje estariam na festa viciados em crak, transexuais, lésbicas, gays, agiotas, traficantes, aidéticos, deprimidos, flanelinhas, e outros “diferentes”. Fico pensando se eu teria a dignidade necessária para me sentar à mesa com essa gente. Talvez não...

Fato mesmo é que Jesus ora estava aqui, ora ali, outra ora sabe-se lá onde. Até seus discípulos, por vezes, o perdiam de vista. Ele era ser errante, não tinha onde reclinar a cabeça, não criava “raiz”, nem amarras, sua casa era o mundo! Quando você pensava que Ele estava vindo, já tinha ido. Para Jesus a fila sempre estava andando, a vida sempre estava fluindo. Mas, desgraçadamente, aquela geração não soube reconhecer aquela “visitação”.

Olho as pessoas nos nossos dias... Elas estão sempre insatisfeitas, reclamando, querem mais e depois mais, buscam a fixidez, o concreto, a segurança, a estabilidade. Enquanto perdem tempo com suas questiúnculas, "a fila anda", o sonho passa, a vida segue, o tempo voa. É gente insegura, gente ansiosa, gente ingrata, gente irresolvida, gente intemperante, gente que deixou de ser gente, gente que se dessignificou como gente, gente que desaprendeu a ser gente, tornou-se substrato de gente, gente partida, dividida, gente que já não é mais gente.

Para quem chegou neste estágio, só tenho uma coisa a dizer: “a fila já andou”. Enquanto você se emaranhava com tantas questões fúteis, com tantos projetos inúteis, com tanta megalomania, “a fila estava andando...”. Havia nas esquinas da vida gente precisando de carinho, de afago, de uma mão estendida, de uma palavra de conforto, de uma ação de misericórdia, de uma atitude de solidariedade, de uma decisão corajosa, de uma posição assumida, de uma consciência renovada, de uma alma quebrantada, de um coração expandido. E você, onde estava? Onde eu estava?! Ah, nós estávamos nos templos, nas reuniões, nos encontros religiosos, nas vigílias, nos seminários, estávamos “fazendo a obra”! Mas que obra?! A obra de quem?!

Hoje à tarde eu quase adormeci naquela fila... Agora estou com medo de estar adormecido quanto à existência que me cerca, aos dramas que me rodeiam, as calamidades que acontecem a minha porta, na minha cara, na esquina da minha rua, na frente do meu trabalho, na ponte, na praça, pois nestes lugares é onde estão os bêbados, os mendigos, os gays, os travestis, os maconheiros, essa gente que eu tenho desprezo de olhar, aversão de ouvir, nojo de tocar, medo de sentir.

Entretanto, o grande paradigma em tudo isto é que são justamente estes que Jesus quer que eu convide para a “festa”, pois são eles os mais receptivos a Graça e ao Reino. Agora, se eu não me “tocar” quanto a isto, corro o sério risco de, em algum momento, ouvir dEle: “desculpe filho; "a fila já andou"; tive de usar outro em seu lugar, pois você estava muito ocupado com a sua obra”. Pense nisso...

Carlos Moreira é culpado por tudo o que escreve. Com medo de perder o "andar da fila" quer viver uma nova realidade de prática e fé. Ele escreve aqui no Genizah e na Nova Cristandade.


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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ame a mim onde estás

Ame a mim onde estás – Por Francis Frangipane

Descobri que, a medida em que buscamos ao Senhor, nossos momentos mais difíceis podem ser transformados em conquistas maravilhosas no amor de Deus. Tive um desses momentos durante os anos de 1979 a 1981.

A associação de igrejas com as quais eu estava ligado tinha caído sob decepção espiritual. Não somente suas doutrinas forma contaminadas com influências da Nova Era, mas a imoralidade entrou silenciosamente, e os principais líderes começaram a deixar as suas esposas por outras mulheres.

Eu não podia mais permanecer em silêncio. Como resultado, em 1979 eu deixei minha congregação em Detroit, Michigan, onde eu tinha servido como pastor, e viajei para a sede regional da organização, em Iowa. Cheguei a implorar por arrependimento. No entanto, após reunião com os dirigentes, fui convidado a deixar o grupo.

Neste ponto, havíamos deixado nossa igreja, não tínhamos dinheiro, tínhamos quatro filhos, não poderíamos nem mesmo comprar habitação básica. Desesperados por qualquer coisa, finalmente encontramos uma velha fazenda na região rural de Washington, Iowa. A casa tinha mais de cem anos,e realmente parecia muito mais velha. Depois de negociar com o proprietário, nos foi dado um ano de aluguel gratuito, desde que eu fizéssemos reparos básicos assim como, limpeza e pintura.

Mesmo assim, a casa precisava de mais do que poderíamos fornecer. O forno não funcionava bem, por isso, instalei um fogão a lenha na cozinha. Chegou o primeiro inverno, e foi um dos mais frios da história de Iowa. Nas paredes internas se formavam finas camadas de gelo, espalhando em torno de cada janela, e ainda rajadas de vento trazendo ainda mais frio em várias ocasiões.

Para aquecer as noites, toda a família ficava abraçada firmemente em um grande colchão no chão da sala de jantar, cerca de 18 metros do fogão a lenha na cozinha. Um ventilador atrás do fogão levava o ar quente em nossa direção. Meu projeto noturno, foi gerar bastante calor no fogão para nos manter aquecidos até de manhã.

Enquanto eu arrumava o fogo, aproveitava para orar e buscar a Deus. O fogão a lenha se tornou uma espécie de altar, para mim, para cada noite, e a medida em que eu orava, eu ofereci a Deus os meus sonhos não realizados e também a dor do meu isolamento espiritual. Sim, eu sabia que o Senhor estava ciente da nossa situação. Embora não tendo praticamente nada, Ele nos mostrou o seu cuidado em diversas ocasiões. Eu só não sabia o que Ele queria de mim.

A medida em que o tempo se passou, inteiramos seis filhos. A medida em que a família crescia, a pequena área ao redor do fogão a lenha se tornou um lugar sagrado para mim. Mesmo no verão, eu me assentava na cadeira ao lado do fogão e ia orar e adorar.

Eu gostaria de dizer que encontrei a alegria do Senhor durante este tempo, mas na verdade, embora eu estava sendo gradualmente ajustado em minha situação, eu sentia uma miséria permanente em minha alma. Nossa profunda pobreza era um problema (eu mal fazia 6.000 dólares por ano), e muito mais do que isto, eu sentia como se tivesse perdido o Senhor. Minha oração constante era: “Senhor, o que você quer de mim?”

Três anos se passaram e eu continuava a buscar, e eu ainda carregava um vazio por dentro. Qual era a vontade de Deus para mim? Eu fiz alguns estudos bíblicos e preguei algumas vezes em igrejas, pois, eu era muito identificado com o ministério pastoral, mas até que eu estivesse envolvido novamente em um ministério de tempo integral, eu temia perder o contato com o chamado de Deus em minha vida.

Apesar deste vazio interior relativo ao ministério, eu estava realmente crescendo espiritualmente, especialmente em áreas que anteriormente eram desconhecidas. Eu estudei os Evangelhos, com fome para aprender obedecer as palavras de Cristo. Anteriormente, eu tinha inconscientemente definido um ministério bem sucedido como algo nascido através meu desempenho. Durante este tempo, porém, o Senhor me reduziu a ser apenas um discípulo de Jesus Cristo.

Na verdade, uma série de coisas que eu achava que eram bíblicas descobri que foram realmente apenas tradições religiosas.Então o Senhor me pediu que eu fizesse um inventário do meu coração e examinasse as poucas verdades para as quais eu estaria disposto a morrer. Ele disse que ,as verdades para as quais eu estava disposto a morrer, na verdade por elas eu deveria viver.

Francamente, coisas como o tempo do arrebatamento ou nuances sobre o estilo de adoração ou dons espirituais estão em prioridade, embora eu ainda as considere importantes. Neste ponto o meu foco se tornou a paixão de ser um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo, para obedecer aos Seus ensinamentos e não ser um crítico, mas me tornar um incentivador. Eu também encontrei-me cada vez mais livre para desfrutar e aprender com os cristãos de outras correntes e perspectivas.

No entanto, estas mudanças, embora profundas e duradouras, transcorreram de forma lenta, quase imperceptível. Elas estavam acontecendo tranquilamente em meu coração, e só fazendo um retrospecto, que eu vi o que o Senhor tinha feito. Durante todo esse tempo, eu estava preocupado com os sentimentos de distanciamento da vontade de Deus. Minha oração em conhecer o plano do Senhor para mim continua diariamente.

A descoberta

Um dia, quando eu estava na cozinha, e repeti novamente a minha oração permanente: “Senhor, o que você quer de mim” Em um súbito lampejo de luz, o Senhor respondeu-me falando diretamente ao meu coração,,Ele disse: “Ame a mim, onde você está.”

Naquele tempo eu não era um pastor ou ministro. Eu fazia biscastes consertando aparelhos de tv para sustentar minha família. Eu não gostava do que eu estava fazendo. Na minha igreja anterior eu ensinei contra a TV e agora eu estava ” colocando minha mãos”para consertar aparelhos de TV! A resposta do Senhor veio direto ao meu coração. Fiquei impressionado com sua simplicidade! Eu perguntei: Te amar onde estou? Senhor, é que tudo o que queres de mim?” Para isto ele respondeu: “Isso é tudo que eu sempre quis de você.”

Nesse momento ,uma paz eterna inundou minha alma e eu fui liberado da falsa expectativa de serviço do ministério. Deus não estava olhando para o que eu fiz para ele, mas pra quem eu me tornei pra Ele no amor. A questão em seu coração não era se eu pastoreava, mas se eu o amava. Ali eu entendi que fui criado para amar o Senhor em qualquer situação, mesmo sendo um “reparador de televisão”, e eu poderia fazer isso!

Uma transformação profunda e marcante ocorreu em mim. Minha identidade não estava mais em ser um pastor, mas sim, em se tornar um verdadeiro amante de Deus. Tendo resolvido as minhas prioridades, surpreendentemente, apenas alguns dias depois fui convidado para ser pastor de uma igreja em Marion, Iowa. Apesar de toda a minha ansiedade anterior sobre o retorno ao ministério, eu não aproveitei aquela oportunidade logo de início. Porque eu tinha encontrado o que o Senhor realmente desejava de mim. Depois eu finalmente aceitei o convite, mas meu foco não era apenas a liderança de uma igreja, mas amar a Deus.

O que Deus procura?

Mais do que alguém para exercer o ministério, Deus pede o nosso amor. Seu grande mandamento é que nós o amemos, enfim, com toda nossa mente, todo o nosso coração, e toda a nossa alma e força. Se o amarmos, nós vamos cumprir tudo o que Ele requer de nós (João 14:15). E a medida em que nós o amamos, Ele organiza todas as coisas que cooperam para o nosso bem (Rm 8:28).

Amado, amar a Deus não é difícil. Nós podemos exercer qualquer profissão, a de mecânico de automóveis ou dona de casa, médico ou estudante de faculdade e ainda dar um grande prazer para o nosso Pai celestial. Nós não precisamos de títulos ministeriais para amar o Senhor. De fato, Deus mede o valor de nossas vidas pela profundidade do nosso amor. Isto é o que Ele exige de cada verdadeiro buscador Dele: amá-Lo onde estamos.

Senhor Jesus, a revelação de Seu amor varreu meus pés. Senhor, Tu me atraíste e eu correrei a ti. Mestre, mesmo nas coisas mundanas da vida, vou expressar meu amor por você. Consome-me em Seu amor.

Este texto foi extraído do site http://frangipane.org/